sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Falta de tempo... ou não

Hoje de manhã andava o meu João de roda da minha mãe “avó, brinca comigo”. E ela parava o que estava a fazer e lá brincava um bocadinho. Depois via uma blusa fora do sítio e ia arrumar, depois via outra coisa que lhe parecia que tinha que ser feita (coisas que para mim não têm importância nenhuma, mas deve ser por isso que ela diz que eu sou muito desarrumada! :-)) e lá ia fazer (saliento que a minha mãe tem um qualquer bicho carpinteiro que não lhe permite estar sem trabalhar!!!). Claro que, sentindo a falta dela no puzzle que estavam a construir, ele voltava a gritar “avó, brinca comigo” e ela lá ia colocar mais umas peças, mas logo que via que a cama estava desalinhada, ia ajustar.

A minha mãe sempre foi muito dedicada à arrumação da casa. Trabalhava fora de casa, mas a casa tinha que estar sempre com tudo no sítio, tudo arrumado e limpo. Ainda hoje, com 73 anos, e vivendo sozinha, aquela casa é mais vezes limpa e arrumada (e atenção que não é uma arrumação qualquer: implica limpezas profundas dentro dos armários, pintar paredes de vez em quando (que ela faz sozinha sem dizer nada a ninguém) e por aí fora) do que qualquer outra casa cheia de gente! Hoje apercebi-me a “luta” do João para a ter só para ele. E lembrei-me da minha infância.

Mas, não foi fácil recordar-me. Ou seja, primeiro perguntei-me “o que é que eu sentia, quando era pequena, e ela não tinha tempo para brincar comigo?”. Sinceramente, não me lembro. Nem me lembro dessa expressão "não ter tempo", nem de me sentir frustrada pelo pouco tempo de brincadeira com ela (às vezes conseguia que ela pegasse no elástico para eu saltar ou jogava à bola comigo ou empurrava-me no baloiço que tenha mesmo em frente à minha casa, improvisado numa grande nespereira).

Ou seja, ela sempre foi uma mãe muito presente, mesmo na sua ausência. Tinha às suas costas os 4 filhos (mesmo os mais velhos precisavam dela para os orientar) e as responsabilidades inerentes a uma vida de luta para garantir algum conforto à família. Trabalhava muito… saía bem cedo e regressava bem tarde (não estou a exagerar! Houve um período, em que eu já era mais crescida, em que saía às 7H00 e voltava já bem depois do jantar).

Por isso, o tempo para brincar era mesmo muito pouco. Aliás, se eu pensar bem, não me lembro de em pequena (na idade dos meus filhos) a ver sentada no sofá ou simplesmente a não fazer nada.

Hoje em dia, como mãe, eu vivo muito angustiada por passar pouco tempo com os meus filhos, por brincar pouco com eles, por não ser como as mães queridas dos desenhos animados e com medo que isso os traumatize para a vida. Conscientemente, acho que é um exagero, mas a preocupação está sempre aqui no coração.

Olhando para trás, sinto que fui uma criança feliz com o amor de uma mãe sempre presente. E os netos da minha mãe também lhe reconhecem um amor muito especial de avó!

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