sexta-feira, 29 de abril de 2016

Fim de semana à porta

É sempre bom sentir que estamos a poucas horas de encher o balão de oxigénio com horários menos exigentes, com os mimos da família, alguma preguiça e, se possível, algum ar livre e sol na tola.
Ainda que o fim de semana tenha também que ser de estudo com os miúdos e cumprimento de alguns compromissos "que têm que ser", ainda assim, é bom sentir o perfume do fim de semana.

Divirtam-se, mimem as vossas mães e sorriam!

Sorrisos (ontem é que foi o dia Mundial do Sorriso)

Ando um pouco descompassada em relação aos marcos diários de o "dia de...".
Mas, não faz mal! (um grande sorriso)
Diz-se que ontem foi o dia Mundial do Sorriso e acho bem que haja um dia em que possamos pensar se andamos de alma sorridente e recordar-nos que um sorriso genuíno será sempre o mais belo (e despretensioso) presente.

Sim... mas, infelizmente, há dias que não nos apetece sorrir... e, muitas vezes, ainda que sem um olhar sorridente, sorrimos...

Sorriso Audível das Folhas

Sorriso audível das folhas
Não és mais que a brisa ali
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri?
O primeiro a sorrir ri.

Ri e olha de repente
Para fins de não olhar
Para onde nas folhas sente
O som do vento a passar
Tudo é vento e disfarçar.

Mas o olhar, de estar olhando
Onde não olha, voltou
E estamos os dois falando
O que se não conversou
Isto acaba ou começou?

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"


quinta-feira, 28 de abril de 2016

Respeito

"O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro".
José Saramago

Há dias os meus olhos focaram-se nesta frase de Saramago e roubaram-me alguns momentos de reflexão.
Aliás, ela vem muito de encontro ao tema do meu texto anterior: Liberdade.
Na realidade não penso que tenhamos esta consciência da força ditatorial (arisco dizer) que a acção “convencer” tem intrínseca em si mesma quando dizemos, por exemplo, “ainda te vou convencer…”
No entanto, pensemos, o que faz com que o meu ponto de vista, a minha opinião, a minha crença, ou simplesmente o meu gosto seja superior à verdade do outro?!?
Reparo que a informação nunca esteve ao alcance tão fácil e tão rápido das pessoas, como acontece hoje em dia. Resultado das proliferação (e democratização) das novas tecnologias de informação e massificação das formas de comunicar. Junte-se a isto a facilidade com que cada individuo pode dar (e publicar) a sua opinião nesta rede global de comunicação. Muitas vezes numa luta voraz pela imposição de opinião individual sem respeitar o pensamento (e o coração) do outro. E isto acontece tanto nos debates políticos, desportivos, como as reuniões de trabalho e até mesmo nas simples conversas do dia a dia.
Sim, somos, muitas vezes, ditadores quando emitimos a nossa opinião, numa tentativa de convencer o outro de que a minha verdade é que é “A” verdade, correndo o risco de até ridicularizar a diferença do outro.
O respeito é, sem dúvida, o alicerce das relações humanas e se fosse entendido universalmente, viveríamos de certeza num mundo mais justo (para todos).
Isto faz-me lembrar uma conversa familiar tida há tempos com o nosso filho mais velho que a propósito de um barulho infernal que fazia, eu lhe pedi que parasse com aquilo porque nos estava a incomodar. Ele rapidamente, e sem prensar, ripostou que a ele não estava a incomodar e que até gostava. Partindo deste disparate explicámos-lhe que a “liberdade dele terminava quando ela condicionava a liberdade do outro”.
Foi a primeira vez que ele ouviu tal coisa e ficou a pensativo com isto. Não sei a que conclusão terá chegado por si mesmo, mas acredito que o tempo amadurecer-lhe-á estes princípios.
E nós adultos, quantas vezes nos esquecemos deste princípio civilizacional?

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Liberdade

Porque nunca é fora de prazo reflectir sobre a liberdade, acho que ainda posso dissertar sobre o tema, mesmo que nos “rescaldos” do 25 de Abril.
Em vésperas da data, o meu filho mais velho (9 anos) vinha da escola muito entusiasmado sobre o que tinha aprendido sobre o 25 de Abril. Sabia o ano da efeméride e as senhas que tinham marcado a Revolução dos Cravos. Cantarolava a “Grândola Vila Morena”, dizendo que era de Zeca Afonso, e o “Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho (pai do Agir, acrescentava ele).
Eu sorri perante estes conhecimentos, mas sobretudo sobre as reflexões que ele ia fazendo sobre o tema.
E lá dizia ele: "sabias, mãe, que naquele tempo as pessoas não podiam dizer o que pensavam em qualquer lugar, nem escrever o que queriam, nem ler o que mais gostavam? Havia até uns senhores que liam as coisas antes de saírem e riscavam o que achavam que não estava de acordo com o que devia ser naquela altura."
Eu ia assentindo com a cabeça.
Por fim, rematou "tu ainda não eras nascida, mãe. não saíste para a rua a festejar. O avô estava na tropa. Tinha entrado no dia antes".
Eu continuei a acenar que sim com a cabeça. E fiquei, confesso, um bocadinho vaidosa com tanta curiosidade no pensamento do miúdo e com tanta coisa que afinal já sabia.
Reparei que, envolto neste tema, o marcou especialmente a percepção do conceito "mudança". O antes e o depois 25 Abril. E isso, via-se no olhar dele, fascinava-o... a possibilidade de estar sempre em aberto "mudar" (preferencialmente para melhor, acrescento eu).
Eu acho que quem já nasceu com a liberdade, dificilmente entenderá a Revolução da mesma forma do que os que viveram essa mudança. Nós (sim, porque eu nasci depois do 25 de Abril) tivemos o privilégio de nascer num pais em mudança, com liberdade de pensamento e de opinião. Nascemos com a alegria de podermos rir alto na rua, de podermos dar beijinhos em público… Foi-nos oferecido o direito de voto, de escolha e de luta (sempre).
Antes do 25 de Abril eu e o meu filho não poderíamos ter a conversa que tivemos abertamente na rua e com direito a cantarolar as músicas da Revolução.
Para lhe aguçar aquele momento de reflexão expliquei-lhe que, infelizmente, há ainda países onde não se vive em liberdade. Houve um momento de silêncio e percebi que lhe fez confusão perceber que no mundo não temos todos a mesma sorte e que há quem viva ainda num regime de opressão.
Ele ficou pensativo!
E eu também, confesso!


(nota: afinal já sei porque é bom voltar a escrever aqui. para mais tarde recordar estes momentos)

O acaso

O último texto que escrevi foi em 1 de Agosto de 2014! Sim 2014!
Como é que é possível já ter passado tanto tempo!
Nem sei...
Sinto este cantinho como meu! Quase só meu! Quase como um segredo!
Nunca divulguei este espaço com praticamente ninguém. E porquê?
Nem sei bem...
Acho que é o meu lado envergonhado, e até pouco confiante, que persiste, mesmo que assim meio escondido e quase embrulhado.
E penso: "mas quem se pode interessar pelos meus desabafos"?.
Não sei...
Mas, ainda assim, andei por aqui na blogosfera. Escrevi alguma coisa e se aqui estou é porque, mesmo que envergonhadamente,  quero partilhar com que aqui possa "cair à sorte".
Há dias uma pessoa que conheço de várias "andanças" falou-me deste meu cantinho. E eu fiquei surpreendida! Não só falou, como elogiou... E eu fiquei assim meio sem jeito e surpreendida, sim!
Quis a "sorte" que alguém que eu conheço viesse aqui parar e reconhecesse a minha escrita... no fundo reconhecendo o meu eu nestas palavra que aqui vou deixando, muito esporadicamente!
E com um sorriso pensei "se calhar isto não é por acaso. Se calhar, tenho mesmo alguma coisa para partilhar."
E, sim, gosto de escrever, ainda que muitas vezes ache que não tenho nada para dizer.