quinta-feira, 28 de abril de 2016

Respeito

"O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro".
José Saramago

Há dias os meus olhos focaram-se nesta frase de Saramago e roubaram-me alguns momentos de reflexão.
Aliás, ela vem muito de encontro ao tema do meu texto anterior: Liberdade.
Na realidade não penso que tenhamos esta consciência da força ditatorial (arisco dizer) que a acção “convencer” tem intrínseca em si mesma quando dizemos, por exemplo, “ainda te vou convencer…”
No entanto, pensemos, o que faz com que o meu ponto de vista, a minha opinião, a minha crença, ou simplesmente o meu gosto seja superior à verdade do outro?!?
Reparo que a informação nunca esteve ao alcance tão fácil e tão rápido das pessoas, como acontece hoje em dia. Resultado das proliferação (e democratização) das novas tecnologias de informação e massificação das formas de comunicar. Junte-se a isto a facilidade com que cada individuo pode dar (e publicar) a sua opinião nesta rede global de comunicação. Muitas vezes numa luta voraz pela imposição de opinião individual sem respeitar o pensamento (e o coração) do outro. E isto acontece tanto nos debates políticos, desportivos, como as reuniões de trabalho e até mesmo nas simples conversas do dia a dia.
Sim, somos, muitas vezes, ditadores quando emitimos a nossa opinião, numa tentativa de convencer o outro de que a minha verdade é que é “A” verdade, correndo o risco de até ridicularizar a diferença do outro.
O respeito é, sem dúvida, o alicerce das relações humanas e se fosse entendido universalmente, viveríamos de certeza num mundo mais justo (para todos).
Isto faz-me lembrar uma conversa familiar tida há tempos com o nosso filho mais velho que a propósito de um barulho infernal que fazia, eu lhe pedi que parasse com aquilo porque nos estava a incomodar. Ele rapidamente, e sem prensar, ripostou que a ele não estava a incomodar e que até gostava. Partindo deste disparate explicámos-lhe que a “liberdade dele terminava quando ela condicionava a liberdade do outro”.
Foi a primeira vez que ele ouviu tal coisa e ficou a pensativo com isto. Não sei a que conclusão terá chegado por si mesmo, mas acredito que o tempo amadurecer-lhe-á estes princípios.
E nós adultos, quantas vezes nos esquecemos deste princípio civilizacional?

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