quarta-feira, 27 de abril de 2016

Liberdade

Porque nunca é fora de prazo reflectir sobre a liberdade, acho que ainda posso dissertar sobre o tema, mesmo que nos “rescaldos” do 25 de Abril.
Em vésperas da data, o meu filho mais velho (9 anos) vinha da escola muito entusiasmado sobre o que tinha aprendido sobre o 25 de Abril. Sabia o ano da efeméride e as senhas que tinham marcado a Revolução dos Cravos. Cantarolava a “Grândola Vila Morena”, dizendo que era de Zeca Afonso, e o “Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho (pai do Agir, acrescentava ele).
Eu sorri perante estes conhecimentos, mas sobretudo sobre as reflexões que ele ia fazendo sobre o tema.
E lá dizia ele: "sabias, mãe, que naquele tempo as pessoas não podiam dizer o que pensavam em qualquer lugar, nem escrever o que queriam, nem ler o que mais gostavam? Havia até uns senhores que liam as coisas antes de saírem e riscavam o que achavam que não estava de acordo com o que devia ser naquela altura."
Eu ia assentindo com a cabeça.
Por fim, rematou "tu ainda não eras nascida, mãe. não saíste para a rua a festejar. O avô estava na tropa. Tinha entrado no dia antes".
Eu continuei a acenar que sim com a cabeça. E fiquei, confesso, um bocadinho vaidosa com tanta curiosidade no pensamento do miúdo e com tanta coisa que afinal já sabia.
Reparei que, envolto neste tema, o marcou especialmente a percepção do conceito "mudança". O antes e o depois 25 Abril. E isso, via-se no olhar dele, fascinava-o... a possibilidade de estar sempre em aberto "mudar" (preferencialmente para melhor, acrescento eu).
Eu acho que quem já nasceu com a liberdade, dificilmente entenderá a Revolução da mesma forma do que os que viveram essa mudança. Nós (sim, porque eu nasci depois do 25 de Abril) tivemos o privilégio de nascer num pais em mudança, com liberdade de pensamento e de opinião. Nascemos com a alegria de podermos rir alto na rua, de podermos dar beijinhos em público… Foi-nos oferecido o direito de voto, de escolha e de luta (sempre).
Antes do 25 de Abril eu e o meu filho não poderíamos ter a conversa que tivemos abertamente na rua e com direito a cantarolar as músicas da Revolução.
Para lhe aguçar aquele momento de reflexão expliquei-lhe que, infelizmente, há ainda países onde não se vive em liberdade. Houve um momento de silêncio e percebi que lhe fez confusão perceber que no mundo não temos todos a mesma sorte e que há quem viva ainda num regime de opressão.
Ele ficou pensativo!
E eu também, confesso!


(nota: afinal já sei porque é bom voltar a escrever aqui. para mais tarde recordar estes momentos)

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