sexta-feira, 31 de maio de 2013

Lua preguiçosa

Sou preguiçosa! É verdade, não vale a pena tornear esta questão. Gosto muito de papas e descanso e às vezes daquele descanso mesmo de papo para o ar sem mexer um dedo!

Mas... perguntem-me quantas vezes consigo satisfazer este meu lado preguiçoso!

NUNCA!

A verdade é que há sempre responsabilidades a gritar mais alto e nunca consigo entregar-me a este estado "vegetal"!

Quando chego ao final de um dia e olho para trás e vejo que consegui fazer muita coisa, que a agenda foi cumprida, que consegui ser "uma mulher" de governo como dia a minha querida mãe, sinto-me muito bem!

Ontem às 10 da noite parei. Olhei para trás e vi 8 horas de trabalho na empresa, 1 hora para compras, 3 horas de faxina doméstica com direito a aspirar, lavar e arrumar e ainda algum tempo para uns beijinhos aos filhotes, umas conversinhas e um aconchego na hora de ir para cama.

Assim que sentei o rabo no sofá e comi uma tosta preparada pelo maridão, comecei a sentir um cansaço grande, o corpo dormente e pufff adormeci!

Isto faz-me acreditar que as nossas forças vão muito para além daquilo que pensamos ter. Quando temos que virar tudo do avesso viramos mesmo, não só nas arrumações da casa, como nas arrumações da nossa vida!

Continuo a achar que sou preguiçosa, só não posso é dar atenção à preguiça! :-)

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Onde andas bom tempo?

O sol e a temperatura quentinha andam por parte incerta!

E já falam que não vamos ter verão que o calor estival chega lá para Outubro e andam o país desanimado.

É mais um desânimo a juntar-se a tantos outros desgostos que vivemos diariamente, como o trabalhar mais, ganhar menos, noutros casos nem há trabalho, é a corrupção do "sr. não sei quantos" e mais os clubes de futebol que não animam as grandes massas.

E é isto. Andamos todos aborrecidos, porque parece que não chegam boas notícias a terras lusitanas.

Não quero deprimir os meus 5 leitores que amavelmente vão espreitando a minha lua, mas realmente ando aborrecida com esta ausência de bom tempo.

Também sei que tenho outras razões para sorrir e é nessas que me devo focar, mas às vezes fico de lua minguante… é isso!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O “Ok” masculino

Troco diariamente e-mails com o meu marido. Sim, em casa há sempre muito barulho, muito “oh mãe” e “oh pai” e somos constantemente interrompidos quando estamos a conversar. 

Quando os miúdos vão para a cama (e até vão cedo) é hora de acabar os afazeres domésticos e escutar o silêncio. 

Portanto, durante o dia trocamos e-mails para os recados diários, como não te esqueças de comprar legumes, esqueceste-te do fato do karaté, e outras coisas sem qualquer interesse para terceiros, serve também para perguntar se está tudo bem e até para reforçar “amo-te” e beijinhos. 

Tudo bem até aqui, certo? Nada que mereça qualquer comentário, não é verdade? 

Pois não, não é verdade ou não fossemos nós, mulheres, muito exigentes, algo complexas e até um pouco dadas ao novelesco. 

Então, não é que normalmente ele me responde apenas “OK”! Quer dizer, eu sei que os homens não são dados a muitas palavras, são até bastante concisos e analíticos, mas para mim deixa-me alguns dilemas: “Ok” para todas as minhas perguntas? “Ok” só para alguns aspectos? Ou “Ok”, não me melgues mais? 

Ah, às vezes também sou premiada com um “bjs” e fico roída “quer dizer, já nem mereço um b-e-i-j-i-n-h-o-s com todas as letras? 

Questiono-me porquê que os homens têm medo das palavras. Falam pouco e, é provável, que achem que falemos de mais, mas quando é escrito… ui, aí o poder de síntese é bastante mais colossal! 

A minha grande preocupação no meio de tudo isto é que sou uma mulher rodeada por três homens lá em casa e o poder de síntese dos mais pequenos já é grande: “como correu a escolinha?” “boa” ou “o que fizeste com os avós?” “muita coisa”. E pronto, uma mulher quer saber mais coisas, e fica nesta “angústia”! 

A sorte é que sei perfeitamente que os homens lá de casa me amam de verdade e às vezes sou premiada com conversas maravilhosas e isso alimenta-me para os “telegramas” do dia-a-dia.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Família que enche o coração

Ontem foi dia de festa para a minha família e foi uma festa que me encheu o coração.

O Joãozinho foi batizado e reunimos a família e os amigos de longa data. Para além da alegria de saber que ele recebeu Jesus no seu coração, e acredito que a força de Deus o faça crescer um menino mais feliz, foi bom ter a família de sangue e a família do coração, como gosto de chamar aos amigos verdadeiros, por perto em alegria e convívio.

Agrada-me ver que, apesar das diferenças que existem na vida de todos, quando fazemos a chamada para nos reunirmos eles dizem sempre que sim (mesmo tendo que vir de longe e tendo que abdicar de outras coisas importantes na vida deles, como o jogo do Benfica de ontem) e com simpatia, carinho e amizade juntam-se a nós.

Para mim, estes dias enchem-me o coração, porque vejo os meus filhos a crescer junto dos avós, dos tios, dos primos, da bisavó, dos amigos, dos amiguinhos (filhos dos nossos amigos) e que vão absorvendo também esta alegria de crescer junto desta “nossa gente”. E eu sei que um dia esta união familiar vai fazer uma diferença positiva na vida deles. Na minha faz e na deles também já vai fazendo!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

36 Anos

Dia de Anos

Com que então caiu na asneira
De fazer na «sexta»-feira
«Trinta»e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse…
Mas fazê-los não parece
De quem tem muito miolo!

Não sei quem foi que me disse
Que fez a mesma tolice
Aqui o ano passado…
No que vem agora aposto,
Como lhe tomou o gosto,
Que faz o mesmo. Coitado!

Não faça tal; porque os anos
Que nos trazem? Desenganos (não creio!)
Que fazem a gente velho:
Faça outra coisa; que em suma
Não fazer coisa nenhuma,
Também lhe não aconselho.

Mas anos, não caia nessa!
Olhe que a gente começa
Às vezes por brincadeira,
Mas depois se se habitua,
Já não tem vontade sua,
E fá-los, queira ou não queira!

João de Deus

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Amo-te, querida mãe

O dia assinalado para celebrar as mães foi ontem – o Dia da Mãe!

Faria sentido que ontem tivesse escrito qualquer coisa para marcar o dia e essencialmente para homenagear a grande mãe que tenho! Mas, a verdade é que o dia foi agitado, com vários compromissos, entre eles, mimando a minha mãe e a mãe do meu marido (a minha sogra), por quem também tenho um carinho especial, e recebendo mimos dos meus filhos.

Também sou mãe… mãe de dois filhos lindos que me ensinam cada dia a ser melhor, a ser mais tolerante, a ser mais bondosa, a ser mais paciente… embora, algumas vezes, em dias de birras e maus comportamentos (também têm) eu fique suspensa e esqueça que ser mãe também é encarar com amor estes momentos difíceis e nem sempre a paciência é minha amiga.

Acho que nunca vou conseguir colocar em palavras a admiração e o amor que tenho pela minha mãe. Desde cedo que lhe reconheço um caráter especial, uma força quase sobre-humana de vencer e um amor de mãe titânico que tem por os filhos e pelos netos, sempre sem pedir o mesmo amor em troca.

Para compreender esta maneira de ser especial que eu gostava de um dia conseguir dizer, é preciso perceber que é uma mulher nascida nos anos 40, num Alentejo profundo, a segunda filha de 8 filhos que não pôde ir à escola, porque tinha outras responsabilidades demasiado pesadas para uma criança (mas, na época era assim!): ajudar a cuidar dos irmãos e das lides da casa.

Era uma linda rapariga (e ainda hoje é uma linda mulher), muito cortejada pelos jovens da aldeia. Olhos azuis como o mar que só conheceu muito tarde, cabelos loiros como o sol que lhe torriscava a pele, enquanto cumpria as lides do campo e as lides domésticas que se faziam ao ar livre, como lavar a roupa no ribeiro e carregar a água do poço. Corpo elegante, tão elegante como eu gostava de ser, mas a mim os genes das pernas gordas do lado paterno sobrepuseram-se aos genes magrinhos dela.

Ainda que com apenas metro e meio de altura (este gene já me calhou a mim), os rapazes não ignoravam a sua presença nos bailes e nunca se sentiu baixinha. E com razão, porque é, sem dúvida alguma, uma grande mulher.

Contra simpatias da família, casou por amor com o único homem que lhe fez palpitar o coração e rumou a sul, enquanto a restante família foi construindo vida na zona da capital.

Viveu, e vive, com humildade, para a família, aceitando a ajuda dos vizinhos que ainda hoje recorda com carinho, e para as responsabilidades da casa. Trabalhava no campo, de sol, a sol e não ambicionava muito mais, desde que a família estivesse unida.

Do seu ventre saíram 2 filhos e 2 filhas, uma das filhas (eu) já chegou tardiamente, quando ela tinha 38 anos, e chorou porque, na época, já não era idade para ter filhos. Acho que, no fundo, a sociedade da altura achava que nessa idade os casais já não teriam uma vida sexual e ter filhos era dizer aos vizinhos que afinal ainda viviam uma intimidade.

Ela conta-me sobre esta vergonha de me ter tido na barriga, mas isso nunca me entristeceu! Sei que sempre me amou e que a revolta era para os que lhe apontavam o dedo e não por mim. Sorriu, ao recordar isto e a pensar que hoje em dia, muitas mulheres são mães pela primeira vez com esta idade!

Enlouqueceu, literalmente, com o coração destroçado e a cabeça em mil e uma preocupações, quando o marido saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou. Quer dizer, ainda voltou algumas vezes com o perdão dela, mas nunca definitivamente, até ao dia em que ela lhe fechou de vez a porta do coração.

Com uma filha de 4 anos, por ciar, como se dizia na época, com um filho numa cama de hospital em coma sem saber se o iria voltar a ver acordado, outro filho que lhe dava preocupações e uma filha casada que precisava da ajuda dela… esta poderia ter sido o início de uma história de drama infindável, mas não foi!

Bateu no fundo da tristeza, mas a mola da esperança, impulsionou-a com uma garra imensa para ultrapassar sozinha problemas e dificuldades que nos fizeram a todos crescer e acreditar que podemos lutar por dias melhores, ainda que o presente possa parecer sombrio.

É engraçado como ao escrever estas palavras, e recordo estes momentos muito bem, sinto que fui uma criança feliz e sou uma mulher feliz. Acho que porque, apesar de momentos muito difíceis, vividos com grandes dificuldades financeiras, nunca nos faltou o amor de mãe, um amor que coloca acima de tudo e de todos, os filhos e os netos que foram acrescendo à família, nem nunca me lembro de sentir que não ter determinadas coisas, que eram próprias para crianças e adolescentes na época, me entristecessem ou me frustrassem.

Não quis resignar-se às dificuldades e foi lutando por uma vida melhor, para ela e para os seus. Sem estudos, sem saber juntar as letras ou entender especialmente os números, aprendeu a escrever o nome completo, porque não queria que no B.I. aparecesse em vez da assinatura  as palavras "não sabe escrever" e aprendeu muito bem a fazer as contas que compunham a sua vida. Nunca se deixou enganar e ainda hoje não há ninguém que resolva um problema da vida melhor do que ela.

Na cidade encontrou uma vida melhor, trabalhando na casa de muitas famílias a quem deixou que lhe ensinassem muitas coisas e a quem dedicou amor, como se fossem parte dos seus.

Hoje, com 73 anos, não se deixa abater pelas dores que querem entrar nos ossos e continua a lutar, a lutar essencialmente pelo bem-estar da família. Como somos muitos, há sempre coisas a acontecer, e às vezes são más… doenças, arrufos, rebeldias, etc, mas ela está sempre na linha da frente de tocha de esperança içada a dizer sigam-me, vamos resolver o problema.

Questiono-me todos os dias, onde é que aquele corpo franzino vai buscar tanta força e como é que aquele coração ainda consegue encher mais um bocadinho!

Embora seja simpática, não é daquelas pessoas de simpatiazinha fácil. É determinada, muito refilona e muito frontal no olhar e às vezes nas palavras. Não gosta de injustiças, por isso luta como uma leoa pela equidade. Nunca teve medo do trabalho e trabalha com uma força tal que com esta idade ainda pinta a casa sozinha, empurra móveis, põe-se em cima das mesas e só nos conta quando já está feito, sempre com a desculpa de que nós temos a nossa vida e que não quer atrapalhar, pedindo ajuda. Nem fica com remorsos que isso nos deixe (aos filhos) fulos!

Recentemente apoiou os filhos, na partida do marido (marido, porque nunca se divorciou, nem nunca teve outro amor)! Abraçou-os e chorou com eles ao lado do caixão daquele que escolheu um dia partir, mas que tarde voltou para perto desta família. Soube dar-lhe o perdão, ainda que não tenha voltado a abrir-lhe a porta do seu coração. E quando foi preciso, abnegou -se de qualquer orgulho que se pudesse imaginar e ajudou a cuidar dele num momento de vida difícil. Deixou que os filhos dele, da outra mulher, lhe chamem tia e sorri.

A vida deu-lhe 5 netas, 2 netos e uma bisneta, e luta por eles, com o mesmo afinco que tem pelos filhos, com o bónus de um carinho ainda mais especial.

Gosta dos nossos mimos, e acho que nunca lhe vamos conseguir dar todo o amor que ela merece. Gosta de nos ver juntos e a rir! Ama os abraços dos netos, tanto dos pequenos como dos grandes! Sorri quando ouve chamarem-lhe bisavó! Não gosta de dormir, nem de preguiça, numa atitude de quem quer aproveitar todos os segundos da vida. Gosta do meu marido e mima-o como se filho fosse, com um grande respeito. Gosta de coisas doces e não se deixa vencer pelas amarguras da vida!

Raramente, lhe ouvimos dizer “no meu tempo”, porque na realidade ela nunca se deixou envelhecer no passado e vive cada dia com a certeza de que este também é o seu tempo.

Fala da partida dela de um dia, com uma naturalidade que me irrita, porque gosto de senti-la como imortal.

É uma mulher boa, sem dúvida, mas não é aquela bondadezinha… é amor, uma amor maternal que vive em todos os momentos!

Não sabe ler, não sabe escrever, não sabe bem contar, mas sabe AMAR!