quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Carta a um filho precocemente rebelde

Querido André,

Hoje portaste-te muito mal de manhã! Deixaste o pai e a mãe tristes! Quando saíste de casa para a escola, senti-me tão "enfurecida" por dentro que quase vomitei o pequeno-almoço.

Fiquei a pensar se entenderias o açoite que dei no rabo e os meus gritos de zangada pela nossa casa, que ultimamente não tem tido momentos contínuos de sossego familiar e as nossas manhãs, nem sempre por tua culpa, têm sido um pesadelo!

Estás a crescer muito depressa e assusta-me a tua “luta” pelo poder lá em casa. Mas, sabes? Não és tu que mandas, filho! Eu e o pai amamos-te muito, muito… e por isso mesmo, queremos mostrar-te o que é certo e explicar-te que não deves ir pelo lado errado. Não é porque somos teimosos, é porque gostamos de ti e queremos que sejas um bom menino e um bom homem.

Hoje vim para o trabalho triste, sentei-me à secretária e senti vontade de chorar. Sabes porquê? Porque receio que tenha falhado como mãe, que não esteja a saber fazer as coisas da maneira certa, contigo e com o teu mano. Aflige-me pensar que esta tua rebeldia precoce, que os conceituados psicólogos analisariam como uma possível falha de afecto e os comentadores populares como uma enorme falta de educação por parte dos pais, seja mesmo por uma falha nossa. Não de afecto, porque eu sei que mostramos que te amamos e também não por falta de educação, porque lá em casa tem havido 'sim' e 'não' e não faltam muitas conversas contigo: umas que te fazem rir, outras que te levam ao choro. No fundo, é assim mesmo a vida, embora eu gostasse que o mundo fosse, para os meus filhos, um espaço completamente protegido e colorido.

Sabes que hoje a tua birra infundada quase te deixava em casa, sem ir para a escola. E isso era mau. Mau, porque os pais não podem privar os filhos da escola e mau, porque tu gostas muito da tua escola e tudo o que ela representa para ti (saber, amigos, partilha, brincadeira, responsabilidade e crescimento)!

O açoite que te dei, como sempre, doeu-me mais a mim do que a ti. Sabes porquê? Porque uma mãe fica sempre com o coração muito apertado e doído quando bate num filho, mas também porque sei que ele não representou quase nada para ti e, na verdade, nem te doeu. O castigo que te impus (ficares sem televisão) também não é nada que te vá fazer pensar especialmente na vida! No fundo… fica, mais uma vez, a dor e o medo de estar a falhar!

E eu posso falhar como profissional, que a frustração fica atenuada pelas outras faces da minha vida, nomeadamente a familiar e a social. Até posso falhar como esposa, porque a vida pode ter agendadas algumas surpresas para nós e a falha nunca será de apenas um lado, ainda assim, com o tempo, essa dor, essa tristeza (dizem) seria um dia ultrapassável. Sei que talvez tenha falhado, algumas vezes como filha, mas o amor e respeito que tenho pela minha mãe é do tamanho do universo e recíproco. Posso falhar em muitas fases da minha lua, mas a dor que ficará marcada nunca se comparará ao medo que tenho de falhar como mãe! E essa falha sim, apagaria um grande bocado de mim!

Sem comentários:

Enviar um comentário